Nem sempre os erros ortográficos se explicam pela falta de atenção. Ou a
incapacidade de memorizar pela má concentração. A dislexia, cujo dia mundial se
assinala esta terça-feira, é um distúrbio que afeta entre 5 e 10% da população
mundial e que torna mais difícil aprender a ler e a escrever. Não tem cura, mas
há remédio, como refere ao Expresso o psicólogo Otávio Moura.
Os sinais de alerta são detetáveis logo em idade pré-escolar, quando as
rimas se revelam difíceis para uma criança ou as cores uma paleta complicada de
memorizar. Mas os sintomas da dislexia dão mais nas vistas na altura de
aprender a ler e escrever. Descodificar uma palavra torna-se um problema, a
escrita não ultrapassa erros recorrentes e a leitura instala-se como um
exercício de lentidão ou pouca fluência, indícios de que é preciso procurar
ajuda.
No Dia Mundial da Dislexia, o psicólogo Otávio Moura, doutorado em
neuropsicologia, aceitou falar com o Expresso sobre este distúrbio, explicando
a importância do seu tratamento numa fase precoce.
Para acabar com eventuais ideias falsas,
o que é que a dislexia não é?
Desde logo, a dislexia não é um atraso intelectual. As
dificuldades de aprendizagem que a caracterizam, ao nível da linguagem e da
leitura, decorrem de alterações genéticas, neurológicas e neurolinguísticas.
Não está em causa uma baixa capacidade intelectual. Pelo contrário, muitas
crianças disléxicas conseguem em certas áreas um desempenho superior à média do
seu grupo etário.
O que caracteriza então este distúrbio?
Ele resulta de alterações neurobiológicas na forma
como o cérebro codifica, representa e processa a informação linguística.
Numa criança na fase inicial do ensino básico
manifesta-se por dificuldades de leitura e escrita. É difícil para a criança
aprender letras, nota-se lentidão na leitura, pouca precisão, dificuldades de
memorização de coisas como, por exemplo, os dias da semana, são dados muitos
erros ortográficos, trocas fonológicas, dificuldades na descodificação das
palavras ou em perceber que podem ser separadas por sílabas... São dificuldades
recorrentes e é comum ser também difícil para a criança estruturar e organizar
as suas ideias numa composição escrita.
É nessa altura que a dislexia se deteta
e se diagnostica?
Antes disso já existem sinais de alerta, sendo
possível fazer um rastreio inicial em idade pré-escolar. Sinais como
dificuldade em perceber rimas ou em segmentar palavras, em memorizar cores,
lengalengas...
Não são sinais e dificuldades fáceis de
confundir com falta de atenção, por exemplo?
Muitas vezes são confundidos. E a verdade é que as
crianças ficam cansadas e por isso desinteressam-se. Gastam muita energia mental
para tentar aprender e acabam desmotivadas, ‘desligam’ da aprendizagem. Uma
desatenção que pode ter duas variáveis: não gostar da escola ou a possibilidade
de coexistir com a dislexia uma possível hiperatividade com défice de atenção -
15 a 40% das crianças com dislexia apresentam os dois distúrbios.
Leia AQUI a entrevista na íntegra
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