A incapacidade de manter a atenção pode prejudicar uma criança na escola e, consequentemente, pela vida fora. Uma situação que pode ser desesperante para os pais e para o professor, e que deve ser bem analisada.
Uma criança pode ser desatenta por vários motivos, desde ansiedade, depressão, mudanças repentinas na sua vida (como um divórcio), problemas de aprendizagem ou até mesmo por sofrer de Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção (PHDA).
O psicólogo Jeffrey Bernstein deixa-lhe oito dicas para ajudar uma criança distraída:
1. Tenha consciência: Lembre-se que este tipo de criança muitas vezes se sente diferente das outras.
2. Evite gritar: Ao gritar só o confunde ainda mais, tornando-o mais propício à desconcentração.
3. Mantenha-se calmo, firme e não seja controlador: Esteja tranquilo, não crie expectativas inalcançáveis e tente não dar demasiadas ordens.
4. Seja proativo e seja comunicativo com os professores: As crianças desatentas desistem rapidamente quando têm de enfrentar obstáculos. Mantenha-se envolvido na vida escolar do seu filho.
5. Incentive o seu filho: Ensine-o a desconstruir tarefas complexas noutras mais pequenas e viáveis. As crianças sentem-se mais motivadas ao conseguir pequenas vitórias e fugir a grandes falhanços.
6. Faça listas: Incentive o seu filho a fazer uma lista de tarefas. É estimulante para uma criança ‘riscar’ as tarefas já cumpridas.
7. Ajude, mas não faça por ele: Ajudar demasiado uma criança a concluir um problema difícil pode fazê-la sentir-se bem, mas não está a ajudá-la verdadeiramente.
8. Promova a auto-estima do seu filho: A maioria das crianças desatentas sente-se inferior aos outros. Demonstre ao seu filho não só que gosta dele, como acredita nele.IN http://sol.pt/ SOL |23/02/2016
É um dos erros mais comuns na língua
portuguesa mas pode aprender a usar a vírgula com 4 regras. Descubra-as...
A
vírgula é um dos elementos que causam mais confusão na língua portuguesa. Pouca
gente sabe ao certo onde deve e onde não deve usá-la. O motivo disso é simples:
sempre nos ensinaram de forma errada!
Já deve ter ouvido dizer coisas como “a vírgula é usada para
indicar pausa”, ou “prestem atenção em como vocês falam, quando tiver pausa,
usem vírgula”; Tudo isso é asneira, pois cada pessoa fala de maneira diferente,
usa pausas diferentes e, basicamente, decide como quer falar.
Mas não podemos, simplesmente, decidir onde tem e onde não tem
vírgula. Ela tem poder demais para ser arbitrária.
Pois bem, existem algumas regras para o uso da vírgula, e elas
são baseadas na gramática.
1. USE A VÍRGULA PARA SEPARAR ELEMENTOS QUE VOCÊ PODERIA LISTAR
Veja esta frase:
João Maria Ricardo Pedro e Augusto foram almoçar.
Note que os nomes das pessoas poderiam ser separados numa lista:
Foram almoçar:
• João • Maria • Ricardo • Pedro • Augusto
Isso
significa que devem ser separados por vírgula na frase original:
João, Maria,
Ricardo, Pedro e Augusto foram almoçar.
Note que antes de “e Augusto” não tem vírgula.
Regra geral,
não se usa vírgula antes de “e”. Há um caso específico que explico mais à
frente.
Um outro exemplo:
A sua fronte, a sua boca, o seu riso, as suas lágrimas, enchem-lhe a voz de
formas e de cores… (Teixeira de Pascoaes)
2. USE A VÍRGULA PARA SEPARAR EXPLICAÇÕES QUE ESTÃO NO MEIO DA
FRASE
Explicações
que interrompem a frase são mudanças de pensamento e devem ser separadas por
vírgula. Exemplos:
Mário, o jovem que traz
o pão, não veio hoje.
Dá-se uma explicação sobre quem é Mário.
Eu e tu, que somos amigos, não devemos guerrear.
O trecho destacado explica algo sobre “eu e tu”, portanto deve estar entre
vírgulas. A classificação do trecho seria oração adjectiva explicativa.
3. USE A
VÍRGULA PARA SEPARAR O LUGAR, O TEMPO OU O MODO QUE VIER NO INÍCIO DA FRASE
Quando um tipo específico de expressão — aquela que indica
tempo, lugar, modo e outros — iniciar a frase, usa-se vírgula. Noutras
palavras, separa-se o adjunto adverbial antecipado. Exemplos:
Lá fora, o sol está de rachar!
“Lá fora” é uma expressão que indica “lugar”. Um adjunto adverbial de lugar.
Na semana passada, todos vieram jantar aqui em casa.
“Na semana passada” indica tempo. Adjunto adverbial de tempo.
De um modo geral, não gostamos de pessoas estranhas.
“De um modo geral” é sinónimo de “geralmente”, adjunto adverbial de modo, por
isso tem vírgula.
4. USE A VÍRGULA PARA SEPARAR ORAÇÕES INDEPENDENTES
Orações independentes são aquelas que têm sentido, mesmo estando
fora do texto. Já vimos um tipo dessas, que são as orações coordenadas
assindéticas, mas também há outros casos. Vamos ver os exemplos:
Acendeu um cigarro, cruzou as pernas, estalou as unhas, demorou
o olhar em Mana Maria.
Neste exemplo, cada vírgula separa uma oração independente. Elas
são coordenadas assindéticas.
Eu gosto muito de chocolate, mas não posso comer para não
engordar.
Eu gosto muito de chocolate, porém não posso comer para não engordar.
Eu gosto muito de chocolate, contudo não posso comer para não engordar.
Eu gosto muito de chocolate, no entanto não posso comer para não engordar.
Eu gosto muito de chocolate, entretanto não posso comer para não engordar.
Eu gosto muito de chocolate, todavia não posso comer para não engordar.
Entendeu? Antes de todas essas palavras, chamadas de conjunções
adversativas, tem vírgula.
Agora só faltam mais duas
coisinhas:Quando se usa vírgula
antes de “e”?
Vimos em cima que, regra
geral, não se usa vírgula antes de “e”. Há só um caso em que se usa vírgula, que
é quando a frase depois do “e” fala de uma pessoa, coisa, ou objecto (sujeito)
diferente da que vem antes dele. Assim:
O sol já ia fraco, e a tarde era amena.
Note que a primeira frase fala do sol, enquanto a segunda fala
da tarde. Os sujeitos são diferentes. Portanto, usamos vírgula. Outro exemplo:
A mulher morreu, e cada um dos filhos procurou o seu destino.
O mesmo caso, a primeira oração diz respeito à mulher, a segunda aos filhos.
Existem casos em que a
vírgula é opcional?
Existe um caso. Lembra-se do item 3, em cima? Se a expressão de
tempo, modo, lugar etc. não for uma expressão, mas sim uma palavra só, então a
vírgula é facultativa. Vai depender do sentido, do ritmo, da velocidade que
você quer dar para a frase. Exemplos:
Depois vamos sair para jantar.
Depois, vamos sair para jantar.
Geralmente gosto de almoçar no ‘shopping’.
Geralmente, gosto de almoçar no ‘shopping’.
Na semana passada, todos vieram jantar aqui em casa.
Na semana passada todos vieram jantar aqui em casa.
Note que este último é o mesmo exemplo do item 3. Vê como sem a
vírgula a frase também fica correcta? Mesmo não sendo apenas uma palavra,
dificilmente algum professor dará errado se você omitir a vírgula.
Não se usa a vírgula!
Com as regras acima, pode ter a certeza de que vai acertar 99%
dos casos em que precisará da vírgula. Um erro muito comum que vejo é gente
separando sujeito e predicado com vírgula. Isso é errado!
Forma errada:
João, gosta de comer batatas.
Alice, Maria e Luísa, querem ir para a escola amanhã.
Forma certa:
João gosta de comer batatas.
Alice, Maria e Luísa querem ir para a escola amanhã.
Subsídio
entregue aos pais foi substituído por protocolo com a rede interna. Mas Bloco
diz que resposta é insuficiente. Deputados discutem regresso ao modelo anterior.
À primeira vista, os protagonistas desta história parecem trocados: em outubro de 2013, no governo PSD/CDS, o Instituto da Segurança Social e a Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares assinaram um protocolo para integrar em serviços da rede pública, nomeadamente nos centros de recursos para a inclusão (CRI) das escolas, um conjunto de terapias que eram oferecidas por entidades externas aos alunos com necessidades especiais ou de aprendizagem. Hoje, no Parlamento, o Bloco de Esquerda apresenta um projeto de resolução para anular essa medida e regressar ao modelo anterior, em que as famílias destes estudantes recebiam subsídios de educação especial, para poderem contratar esses serviços a entidades privadas.
A explicação é dada (...) por Joana Mortágua, do Bloco, uma das autoras do projeto de resolução: a decisão do anterior governo, diz, esbarrou na realidade da falta de capacidade de resposta da rede existente. E muitas crianças, regra geral "as mais carenciadas", acabaram por perder por completo - ou pelo menos ver drasticamente reduzido - o acompanhamento que recebiam até então: "A nossa opinião é que as escolas devem ter todas as capacidades e recursos de que as crianças necessitam", ressalva.
"O problema é que não têm. E no anterior governo, acharam que resolviam alguma coisa retirando o subsídio a milhares e milhares de crianças."
Em resposta (...) sobre esta questão, o Ministério da Educação adiantou que está a convocar "os diferentes interlocutores relevantes para a construção de uma política setorial sobre este tema para resolver de forma articulada e consequente as lacunas que ele apresenta".
Não se sabe ao certo quantas crianças foram afetadas pela medida do anterior governo. No ano passado, a Associação de Pais e Amigos de Crianças e Jovens com Necessidades de Apoio Especializado estimou cinco a seis mil o número de estudantes a precisar deste acompanhamento, adiantando que apenas cerca de 5% continuariam abrangidos pelo subsídio.
Da mesma forma, não é fácil estimar quanto poderá custar o regresso ao modelo anterior. O valor do subsídio é variável, dependendo do apoio específico, da sua periodicidade e da condição socio-económica da família do aluno. Em 2015, de acordo com contas dos sindicatos, o conjunto das verbas para a Educação Especial terá sofrido uma quebra de 30 milhões de euros.
Acompanhamento reduzido
O que parece ser consensual é que a alternativa interna encontrada pelo anterior governo ficou muito longe de corresponder às necessidades reais: "Os apoios que o Estado proporciona às crianças com dificuldades têm sido extraordinariamente mitigados", confirmou (...) David Rodrigues, presidente da Pró-Inclusão - Associação de Professores de Educação Especial.
"Nos centros de inclusão considera-se apoiado um jovem que tenha 45 minutos por semana de uma terapia, o que obviamente não é nem de perto nem de longe suficiente. Basta pormo-nos no papel dos pais e pensar o que seria se o nosso filho tivesse 45 minutos de fisioterapia por semana", adiantou.
Em muitos casos, com a inclusão nos CRI, alunos com apoios como terapias da fala e ocupacionais viram reduzido a um terço o acompanhamento semanal. E este não é o único problema, diz Joana Mortágua: ao substituir, "violando a lei", a forma de sinalização dos alunos, que passou a ser feita pelas escolas a que estes pertencem em vez de por um médico, muitos dos que anteriormente eram abrangidos deixaram de o ser.
Redução brutal
"A redução de 2012 para 2013 foi brutal. Estamos a falar de crianças que, de um momento para o outro, perderam o acesso a subsídios. Vamos ver se isto não terá consequências para as suas vidas", avisou. "Retirar uma terapia da fala, ocupacional, um apoio para crianças hiperativas, língua gestual, pode significar que a criança tenha as suas capacidades de aprendizagem seriamente comprometidas".
David Rodrigues considera que a intenção de transferir respostas para o interior das escolas não é, em si própria, negativa: "O que é preciso é reforçar a intervenção do Estado, de maneira também a que os apoios às crianças com necessidades educativas especiais não sejam pura e simplesmente uma relação de oferta e procura no mercado", defendeu.
E esta é também, disse (...) Joana Mortágua, a ideia do Bloco de Esquerda, para o qual o regresso ao modelo anterior não significa que se esteja perante o fim da discussão: "Não quer dizer que não haja necessidade de se rever toda a legislação em relação à atribuição dos subsídios de educação especial, nem que o Estado e o Ministério da Educação desistam de investir na atribuição destes recursos para a escola."
O problema está no imediato, em que existe uma carência para a qual é preciso encontrar uma solução.
Repensar forma de pagamento
Caso esta iniciativa avance no Parlamento - e o PS deu, enquanto era oposição, sinais de que seria favorável à reposição dos subsídios -, terá também de ser repensada a forma como estes são pagos.
No anterior governo, para os casos em que este apoio se manteve, foi instituída a prática de passar a pagá-los diretamente às famílias, em vez das empresas prestadoras dos serviços. E consequência das dificuldades económicas pelas quais passavam, acabaram por usar o dinheiro para fazer face a outras despesas.
Como é escrever um livro
infantil sobre a Carolina, que é surda e cega? Ou fazer as ilustrações sobre o
Tiago, que tem paralisia cerebral? É difícil. E é fácil. É o que dizem
escritores e ilustradores que foram chamados a contribuir para a colecção “Meninos
Especiais”.
Vasco Gargalo,
ilustrador, pegou num pau de giz e desenhou ao desafio com Martim, num quadro
de ardósia. Paula Delecave, designer, pousou a máquina fotográfica, sentou-se
no chão e tocou nas mãos e no rosto de Matilde. Luísa Ducla Soares, escritora,
passou a tarde numa esplanada a comer gelados e a beber coca-cola com Carolina.
Tinham-lhes pedido que usassem o seu talento para construir pontes entre as
crianças ditas normais e aqueles meninos com deficiências, mas todos eles
descobriram que, primeiro, também eles tinham de as atravessar. “Talvez tenha
sido a coisa mais difícil que já fiz”, reflete a autora de livros infantis e
juvenis Alice Vieira.
A Alice Vieira
costumam perguntar: “Por que é que não escreves sobre o campo?” E ela responde
aquilo que considera “ óbvio”: que o que conhece bem é a cidade e não gosta de
escrever sobre o que não domina. Fala desta sua “mania” para explicar que tinha
boas razões para rejeitar o desafio que lhe foi lançado pela presidente da
associação Pais em Rede, Luísa Beltrão. E para sublinhar que, apesar disso, não
conseguiu dizer que não ao convite para se reencontrar com João, um menino
autista com quem contactara numa outra iniciativa da associação. Objectivo:
conhecê-lo melhor e escrever uma história de que ele fosse o protagonista.
O livro de Alice
Vieira – como os restantes oito, publicados ao ritmo de três por ano – é para
crianças. E até à contracapa, em que aparece a fotografia do João e um texto
sobre ele sobre o que é o autismo, parece um livro vulgar. “Parece, mas não é.
Implicou muito tempo, muito cuidado, o receio de fazer mal, de perturbar os
pais, de não conseguir fazer chegar o João aos leitores”, enumera a escritora.
A ideia de Luísa
Beltrão foi usar as histórias e as ilustrações de pessoas conceituadas para
trazer para a luz estas crianças. “Costuma ver pessoas com deficiências no
parque infantil? E na esplanada ou no cinema? Mesmo na escola, que agora é
obrigatória – estes meninos estão com os seus pares?” A presidente da
associação Pais em Rede, ela própria mãe de uma mulher com deficiência, diz
que, “salvo raríssimas excepções”, as respostas às suas perguntas são “não”,
“não”, “não” e “não”: “Geralmente estas crianças, estes adultos, estão
escondidos, vivem escondidos, são invisíveis”.
Tornar estes meninos
protagonistas de livros de histórias que podem ser lidos pelos alunos das
escolas, pelos pais dos colegas de crianças com os mesmos problemas, pelos
educadores e professores e até pelos próprios pais das crianças com
deficiência, pelos seus familiares e pelos seus amigos, é mais importante do
que pode parecer, diz Luísa Beltrão.
“É criar pontes
para que as pessoas cheguem até elas, e é “revelá-los” “dá-los a ver” sem os
preconceitos habituais. “É permitir que todos – mesmos os pais, que muitas
vezes vivem numa ilha, demasiado sós com os seus filhos – olhem estas crianças
com olhos lavados e limpos, que os vejam como as pessoas que são, com
limitações e capacidades, que podem e devem ter amigos e projectos de vida”,
explica.
Não é um processo
fácil. Um ilustrador chegou a conhecer uma das crianças e depois desistiu,
sentiu-se incapaz de participar no projeto. Uma mãe aceitou receber o escritor
e o ilustrador e depois não deixou que o filho fosse identificado no livro. Não
quis que a imagem da criança fosse associada à deficiência. Ao contrário, há
quem veja no livro uma espécie de libertação, como Cláudia Mendes, ex-dirigente
da Pais em Rede e mãe de Matilde, uma menina que do ponto de vista
administrativo acompanha a turma do 4.º ano desde o jardim-de-infância mas na
realidade ocupa um espaço especial na escola, a sala de apoio à
multideficiência.
“Todos os meninos
da escola leram o livro e puderam depois visitar e brincar com a Matilde e
fazer um desenho sobre o que tinham aprendido sobre ela. De repente os colegas
da minha filha começaram a vir ter comigo – um disse que era fã da Matilde,
outro que finalmente tinha percebido por que é que ela não fala. Mas,
principalmente, todos perceberam que nos dias bons – porque há dias maus –
podem brincar com a Matilde”, diz Cláudia.
Matilde, de 9 anos,
tem a síndrome de Pitt-Hopkins, uma das doenças designadas como “raríssimas”.
“As crianças com esta doença têm dificuldade em aprender. Mas podem ser felizes
e sorrir muito. Também podem, no entanto, ter surtos de angústia e outras
perturbações de comportamento. É uma vida difícil, mas que nem por isso deixa de
poder ser feliz”. É isto que se lê na contracapa do livro de Rui Zink, que
Paula Delecave ilustrou.
“Foi uma
experiência de vida. Tudo, desde o início. Um pouco de medo do que você
desconhece, primeiro. E depois aproximar-se. Entrar no quarto dela, o seu
mundo. Tirar algumas fotos, perceber que antes de continuar tinha de largar a
máquina fotográfica, tocá-la e deixá-la tocar-me, para nos conhecermos”,
descreve a designer e ilustradora. No livro usou fotomontagens e colagens “sem
paternalismos, mostrando Matilde tal como a viu: “uma menina alegre, com uma
relação intrincada com a mãe, que adora o baloiço e para quem ser Matilde, como
escreveu o Rui [Zink] é uma aventura”, diz Paula Delecave.
Aquele encontro foi
tão marcante que a ilustradora colocou-se, literalmente, no livro. Está na
página onde Rui Zink dá voz a Matilde: “Essa doença torna difíceis, para mim,
coisas que para ti são fáceis. Correr, saltar, brincar no pátio. Até aprender.
E falar. Dizer o meu nome. Ou o teu”. A ilustrar, quatro crianças: uma sentada
(Matilde), outra a fazer o pino, uma terceira a andar de bicicleta e a última a
velejar. Os rostos daqueles corpos de meninos irrequietos são fotografias – uma
da própria Paula e as outras de seus familiares em crianças.
Ana Ferreira,
designer gráfica, também polvilhou o livro escrito por Luísa Ducla Soares com
as suas próprias referências. Neste caso, traçando o mapa da viagem que ela
própria fez até chegar a Tiago, um menino com paralisia cerebral. "Um
exemplo: desenhei uma estante com livros que têm escrito nas lombadas os nomes
das estações de metro de Milão. Porque foi lá que me cruzei com a pessoa que me
levou até à Luísa Beltrão, que por sua vez me permitiu encontrar o Tiago e
viver esta experiência marcante”.
Paula Ferreira
transformou o lenço com que o pai limpa a boca a Tiago num adorno à cowboy e
desenhou o menino tal como o vê e o conhece – “Um rapazinho que está numa
cadeira de rodas mas consegue voar – a cavalo ou mesmo sobre uma prancha de
surf”. Mas a história é outra. Luísa Ducla Soares ainda falou com a mãe de
Tiago, mas acabou por decidir concentrar na personagem várias pessoas com
paralisia cerebral que conheceu ao longo da vida.
“Cada escritor tem
as suas particularidades, as suas vivências, a sua maneira de responder a este
desafio”, comenta Luísa Beltrão.
Alice Vieira, por
exemplo, teve muita dificuldade em comunicar com João, uma criança autista. E
se se esforçou. “Convidou-nos a ir a casa dela e ficámos a conversar, enquanto
o João andava por ali, a mexer nas coisas e a pô-las a rodopiar”, conta a mãe
da criança, Helena Sabino. E Alice Vieira diz: “Eu estava a ouvir a mãe, a
vê-lo a brincar, no seu mundo, e a pensar: como é que eu chego até ele? Até que
a mãe disse que ele gostava de chapinhar nas poças de água e eu me lembrei de
um encontro anterior com o João, também numa acção da Pais em Rede, em que o
objectivo era tirar uma fotografia. Estava a ser igualmente difícil, até que
passou um avião, eu apontei, ele olhou e por uns momentos – apenas aqueles
momentos, uns segundos – eu senti que nos tínhamos encontrado”.
Na história, João,
por uns segundos apenas, comunica com uma menina que como ele gosta de saltar
nas poças de água da chuva. “Não aconteceu e ainda assim é, de alguma forma,
verdade – podia ter acontecido”, diz a mãe.
Em todos os casos
há uma forma de aproximação e em cada uma delas o caminho é diferente e resulta
em histórias com diferentes graus de comprometimento com a criança real.
Teolinda Gersão, escritora, e Carolina Arbués Moreira, designer, conheceram a
mesma Carolina, uma criança surda e cega. Ambas viram como uma heroína aquela
menina inteligente que comunica com a mãe através de toques nas mãos, que
escolhe a roupa para cada ocasião e a veste sozinha e que participa na vida familiar
de forma plena, ajudando, inclusivamente, nas tarefas domésticas.
Carolina Arbués
Moreira retratou-a como “uma heroína, que é o que ela é”, uma menina de olhos
fechados e braços longos, longos, capazes de abarcar o mundo e de o tornar seu.
Teolinda Gersão procurou transmitir o que viu de outra forma, mais convencional
e também, acredita, mais acessível aos pequeninos leitores. Na história, a
menina também uma heroína, acorda com a casa em chamas e dá o alerta que
permite que toda a família se salve.
Vasco Gargalo, que
ilustrou o livro Martim, um menino assim, escrito por José Luís Peixoto,
hesitou antes de decidir ser fiel às características físicas das crianças com
síndroma de Cornélia Lange, que têm pestanas longas, sobrancelhas tão compridas
que tocam uma na outra e o narizinho arrebitado. Depois, ainda mandou o esboço
à mãe de Martim. “Disse que faltava ali a vivacidade, o brilho e a alegria do
olhar de Martim. E tinha razão. Voltei a desenhar e ela ficou encantada”, conta
o ilustrador.
Aquela dúvida só
chegou depois de se ter encontrado com o rapazinho e de ter desfeito muitas
outras. Como agir? Descobriu fazendo. Pegando num pedaço de giz e cobrindo de
traços o quadro de ardósia que Martim não distingue das paredes quando desenha
“os seus mundos encantados”; e dançando como um louco as músicas que Martim
cria na própria cabeça. "Nunca um livro me provocou tantas emoções como
este”, diz Vasco Gargalo.
Os livros da
colecção Meninos Especiais, cuja edição é patrocinada por diversas instituições,
não são best-sellers. Não chegam às livrarias, só podem ser adquiridos por
encomenda directa (através do endereço electrónico encomendasmeninosespeciais@gmail.com)
– ainda assim, diz Luísa Beltrão, “já se venderam” 10 mil exemplares. São
considerados importantes, mas não menos que os próprios escritores e
ilustradores, a quem a experiência modifica e transforma numa espécie de
embaixadores da inclusão.
É que, no fim,
depois de ser difícil, o encontro torna-se fácil, explicam alguns. Vasco
costuma estar com Martim, que brinca com o seu filho, Henrique. Ana Ferreira
não descansou enquanto não soube se Tiago tinha gostado de se ver com o lenço à
cowboy – e gostou, soube pela mãe, com quem fala ao telefone.
Carolina Arbués
Moreira moveu mundos e fundos para que a menina surda e cega, não fosse a única
a não poder “ler e ver” o livro, e conseguiu que o Centro Helen Keller
produzisse dois exemplares em braille, com ilustrações em relevo, uma para ela
própria, outro para Carolina – “De repente, isso para mim tornou-se essencial.
E foi possível devido à generosidade de muitas pessoas. É um feito, o destas
crianças: têm a capacidade de juntar as pessoas, de as envolver de as fazer
mexer”, descreve Carolina Arbués. Diz que só sabe disso quem as conhece – cada
vez mais gente.
Um novo estudo demonstra que atrasar um ano a entrada para a escola torna as crianças mais atentas e controladas
A idade em que as crianças devem começar o jardim-de-infância ou
a escola primária tem sido assunto de debate junto da comunidade científica que
estuda o desenvolvimento das crianças. Agora, uma investigação da universidade
norte-americana de Stanford vem mostrar que atrasar um ano a entrada das
crianças para a escola pode ajudá-las a ser menos hiperativas e desatentas, e a
terem mais autocontrolo.
O estudo da universidade de Stanford,publicado em outubrona revista científica do National
Bureau of Economic Research, olhou para o caso de crianças dinamarquesas. O
estudo demonstrou que as crianças que começavam a escola um ano mais tarde
mostravam níveis inferiores de hiperatividade e eram mais concentradas, efeitos
que se mantinham não apenas durante o primeiro ano de escola mas até pelo menos
os onze anos de idade".
"Descobrimos que atrasar a entrada na escola por um ano
reduzia a desatenção e a hiperatividade em 73 por cento para uma criança
'média', aos 11 anos", disse o principal autor do estudo, Thomas Dee,num comunicado
da universidade de Stanford. "Ficava praticamente eliminada a
probabilidade de uma queria 'média' nessa idade tivesse um nível anormal, ou
mais alto do que o normal, de comportamentos hiperativos ou desatentos".
A investigação de Thomas Dee, feita em colaboração com o investigador
dinamarquês Hans Henrik Sievertsen, demonstrou também uma ligação entre níveis
mais baixos de hiperatividade e desatenção e melhores resultados escolares. As
crianças com uma maior capacidade de controlar os seus impulsos e manter-se
atentas tinham melhores notas.
O estudo foi realizado usando dados dos censos dinamarqueses e
informação de um inquérito que é realizado a nível nacional na Dinamarca para
avaliar a saúde mental das crianças com 7 e 11 anos, que mede também os níveis
de hiperatividade e desatenção. Na Dinamarca, como é habitual em Portugal, a
entrada na escola faz-se no ano civil em que as crianças fazem seis anos.
Assim, as crianças nascidas alguns dias antes de 31 de dezembro, que entram na
escola com menos de seis anos, podem ser comparadas com aquelas que nascem
poucos dias depois, que terão seis anos e oito meses quando começarem a escola.
"Ficámos surpreendidos com a persistência do efeito",
disse à Quartz o investigador Hans Henrik Sievertsen. Esperar um ano para
começar a escola fazia com que as crianças não tivessem quase probabilidade
nenhuma de vir a ter hiperatividade acima da média.
O
projeto We Stand for Human Rights!,
promovido pela Dínamo - Associação de Dinamização Sócio-Cultural e financiado
através dos EEA Grants pela Noruega, Islândia e Liechtenstein, no âmbito do
Programa Cidadania Ativa, gerido pela Fundação Calouste Gulbenkian, promoveu um
significativo leque de ações em prol do mainstreaming da Educação para os
Direitos Humanos a nível nacional, alargando de forma significativa o leque de
atores sociais envolvidos e promovendo uma melhor cooperação entre o sistema de
ensino superior e a sociedade civil.
O projeto, desenvolvido entre 2014 e 2016, foi oficialmente recomendado pelo
Conselho da Europa, tendo contado com a parceria da Escola Superior de Educação
do Instituto Politécnico de Lisboa, da organização norueguesa Human Rights
Academy e da rede internacional DARE Democracy and Human Rights Education in
Europe.
Para além das diversas ações de formação e de sensibilização realizadas, foi
levada a cabo no âmbito do projeto a tradução para a Língua Portuguesa do
“Compass - Manual para a Educação para os Direitos Humanos com jovens”, do
Conselho da Europa, uma ferramenta fundamental para quem desenvolve trabalho na
área da Educação para os Direitos Humanos em todo o continente europeu. A sua
apresentação oficial teve lugar no dia 26 de janeiro, na conferência de
encerramento do projeto We Stand for Human Rights!, na Fundação Calouste
Gulbenkian.
Iris Grace é uma criança autista de 5 anos de idade e tem um talento extraordinário para se expressar através da pintura. Queríamos compartilhar sua arte para inspirar e aumentar a consciência sobre o autismo.
Sua história ficou conhecida internacionalmente e seus quadros foram vendidos para colecionadores de arte do Reino Unido e de todo o mundo. Os lucros provenientes das vendas de sua arte arcam com a despesa de suas terapias, educação e guarnecem o seu futuro. Desde que Iris encontrou Thula, um gatinho, em 2014, a sua vida começou a mudar. Eles tiveram uma afinidade imediata e Iris começou a abrir-se e a comunicar-se com Thula de uma forma que ela não tinha feito antes.
Arabella Carter-Johnson, a mãe de Iris, é fotógrafa profissional. Ela documentou tudo através de um diário escrito e de fotografias e publicou, sobre ela, um livro todo ilustrado em cores com as fotografias e, claro, com as pinturas de Iris. Após as pinturas, trouxemos um vídeo sobre Iris. É impressionante o talento dessa pequenina pintora.
Em Portugal, as universidades são laboratórios de desenvolvimento de aplicações móveis que contornam os obstáculos de acessibilidade das novas tecnologias. Os ecrãs tácteis podem ter sido um revés na autonomia das pessoas cegas, mas há quem trabalhe para que quem não vê possa beneficiar de "smartphones" e "smartwatches"
Desbloquear o ecrã, ler ou escrever uma mensagem, consultar o e-mail e as notificações de amigos no Facebook são gestos banais para a maioria dos utilizadores de “smartphones”. Mas e se estivermos a falar de pessoas cegas ou amblíopes, que alternativas existem? A par das aplicações, também os ecrãs tácteis invadiram o mercado dos “gadgets” pessoais nos últimos anos, substituindo o teclado alfanumérico que já nos parece datado. A evolução desta tecnologia acontece a um ritmo difícil de acompanhar, mas a acessibilidade “anda sempre atrás do progresso tecnológico”. Quem o diz é Fernando Santos, técnico de informática e telecomunicações da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO). Para quem estava habituado a utilizar os aparelhos com teclado alfanumérico, os ecrãs tácteis foram um revés na autonomia. Terá a indústria ignorado os cerca de 285 milhões de pessoas com dificuldades visuais extremas, segundo contas da Organização Mundial de Saúde? E o que é que está a ser feito em Portugal?