Todos os interessados podem participar na formação que vai decorrer em Outubro.
O modelo de intervenção
norte-americano para melhorar a autonomia em autistas, Pivotal Response
Treatment (PRT), vai começar a ser ensinado a partir de Outubro. A informação
foi adiantada pela Focus, uma cooperativa portuguesa de solidariedade social
que promove soluções inovadoras de apoio à comunidade que lida com perturbações
relacionadas com o autismo.
Com o
ensino deste modelo, pretendem formar-se pessoas que consigam praticar o PRT
para desenvolverem a comunicação verbal, interacção social, aptidão académica e
outras competências de autonomia quando lidam com pessoas autistas. O projecto
trabalha várias áreas: encoraja a aprendizagem através de pistas e respostas;
providencia várias opções, tarefas e actividades às crianças; ensina a fazer
perguntas e a interpretar o próprio comportamento.
Fernando
Barbosa, presidente da Focus, espera que, depois da formação, as pessoas que
lidam com os autistas consigam melhorar os seus comportamentos “nas áreas da
socialização, comunicação, comportamento e construção de competências
académicas”.
“Um dos
principais objectivos do PRT é diminuir o stress dos pais”, declarou ao PÚBLICO
Fernando Barbosa, adiantando, no que diz respeito à educação, o programa se
baseia “no currículo geral das crianças típicas, em vez de utilizar um
específico para as crianças com autismo” realizando-se “o mínimo de adequações
curriculares, apostando na motivação das crianças para o desenvolvimento de
competências" que ainda não adquiriram. Desta forma, tenta combater-se um
dos problemas mais sérios que essas pessoas enfrentam: a incapacidade de
utilizar as suas competências para participar de forma autónoma na comunidade.
Apesar
de começar agora a ser introduzido em Portugal, o projecto começou a ser
desenvolvido nos anos 70 pelos psicólogos Robert Koegel e Lynn Kern Koegel, da
Universidade da Califórnia com o intuito de fornecer um guia para se conseguir
lidar melhor com as necessidades autistas. Robert L. Koegel considera que
este método é uma versão melhorada das análises comportamentais mais
tradicionais. No entanto, é mais eficaz porque as actividades são realizadas
como brincadeiras, havendo uma maior motivação que faz com que a criança queira
trabalhar para alcançar as tarefas que lhe são propostas.
A
formação de Outubro vai abranger não só os profissionais, como também “todas as
pessoas que lidam diariamente com esta problemática e que são decisivas para o
desenvolvimento”. Pais, professores, auxiliares de educação ou pessoas que
tenham curiosidade em conhecer a intervenção, são alguns dos exemplos dados por
Fernando Barbosa como potenciais interessados em inscrever-se. A formação vai
decorrer no Porto e o custo vai depender dos apoios conseguidos, rondando, para
já, os 200 euros.
Com o
certificado internacional, os formandos vão poder aplicar os conhecimentos
adquiridos a todas as crianças e jovens que apresentem défices em “uma ou
várias áreas do desenvolvimento” e não exclusivamente aos que apresentam
sintomas de autismo. O objectivo é que, depois da formação, as pessoas se
consigam adaptar às características pessoais de cada indivíduo.
A
Autism Speaks, organização norte-americana que promove campanhas de
sensibilização para o autismo e investigação científica, considera que o PRT é
um dos tratamentos mais “estudados e validados” no que diz respeito a estes
comportamentos.
Fernando
Barbosa alerta que “a comunidade em geral está pouco informada sobre as reais
necessidades das pessoas com autismo” e que associa que quem tem esta
perturbação “apresenta certas características que correspondem a alguns
estereótipos” transmitidos em filmes e séries televisivas. A “ideia deturpada
do que é” faz com que o preconceito e a insensibilidade da sociedade levem,
muitas vezes, à discriminação das pessoas com autismo.
Os
apoios do Estado, que Fernando Barbosa considera “muito reduzidos ou
inexistentes”, são factores apontados para a pouca informação da sociedade
sobre este problema, impedindo “uma intervenção ajustada às suas necessidades”.
Especificando a comunidade escolar, o presidente da Focus explica que esta
“carece de uma formação inicial e contínua especializada”, não permitindo que
os profissionais trabalhem eficazmente com crianças e jovens autistas.
Em
Portugal,o único estudo português que existe acerca da perturbação foi
realizado em 2005 e indica que cerca de uma pessoa em cada 1000 teria autismo.
Cerca de 1% da população mundial tem uma perturbação relacionada.
Fonte: http://www.publico.pt/