As vendas do medicamento habitualmente
utilizado para tratar perturbações de hiperatividade e défice de atenção
(PHDA), o metilfenidato, cuja designação comercial é ritalina, duplicaram entre
2010 e 2016. Segundo o Jornal
de Notícias deste domingo, em 2010 venderam-se 133 mil embalagens
daquele que é conhecido como “comprimido da inteligência”, porque ajuda as
crianças a concentrarem-se e a melhorarem os seus resultados escolares. Um
número que mais que duplicou em 2016, quando as vendas rondaram as 270 mil
embalagens.
Ainda assim, o diário, que cita dados fornecidos pela
consultora QuintilesIMS e pelo Infarmed (a autoridade que regula e supervisiona
o mercado dos medicamentos) nota que em 2016 houve uma descida de vendas face a
2015, quando o número de embalagens vendidas atingiu as 283 mil. No entanto,
(...) também nota que surgiu no mercado uma nova molécula para tratar as mesmas
perturbações, a atomoxetina, cujas vendas mais que duplicaram de quatro mil
embalagens em 2015 para nove mil em 2016.
“São muitas as crianças medicadas porque foram
consideradas desatentas e problemáticas. O que era exceção tornou-se habitual”,
declarou o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de
Escolas Públicas, Filinto Lima, considerando que se trata de “um exagero”.
“Só em casos extremos se deveria recorrer a fármacos”,
disse (...) o bastonário da Ordem dos Psicológos, Francisco Miranda Rodrigues.
O especialista defende que o efeito da medicação “não proporciona uma mudança
de comportamento” e sustenta que a intervenção psicológica nas crianças poderia
corrigir grande parte dos problemas.
O responsável pelo Programa Nacional para a Saúde
Mental, Álvaro Carvalho, adiantou que o tema é motivo de preocupação e adiantou
que há muitos pais que se queixam aos médicos que os filhos são hiperativos,
instáveis ou irrequietos. Mas o psiquiatra frisou que “o sofrimento mental na
criança é muito inespecífico” e que estas podem apresentar “os mesmos sintomas
para uma grande variedade de situações”, pelo que não significa forçosamente
que tenham PHDA.
O responsável pela consulta de hiperatividade no
Centro de Desenvolvimento em Coimbra, José Boavida Fernandes, defende que o
metilfenidato pode ser um protetor social da criança ao evitar outros
comportamentos problemáticos. Se a perturbação existe e afeta a vida da criança
por um longo período de tempo, o melhor é medicar, mas é preciso fazer um bom
diagnóstico e evitar os “maus usos da medicação”, alerta.
O pediatra também assegura que “o metilfenidato tem um
padrão de segurança e eficácia enorme” e que “não há um único estudo científico
que alerte para efeitos negativos e já lá vão mais de 50 anos de uso”.
Im Público, por Incluso
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