Sensibilidade ajuda a explicar a irritação de pessoas com o transtorno em ambientes cheios e barulhentos.
Crianças
autistas percebem movimentos duas vezes mais rápido do que crianças sem o
transtorno. Essa foi a conclusão de um estudo publicado este mês no Journal of Neuroscience, importante publicação científica americana. A
descoberta pode parecer estranha, mas ela dá pistas fundamentais para explicar
alguns comportamentos típicos de autistas.
Segundo o cientista Duje Tadin, professor
de ciências cognitivas na Universidade de Rochester e um dos autores do estudo,
essa maior sensibilidade a movimentos pode justificar porque os autistas ficam
tão incomodados com muito barulho ou claridade. Ela também pode estar associada
a déficits comportamentais.
“Vemos o autismo como um distúrbio social
porque crianças com essa condição geralmente têm dificuldade de interagir, mas,
às vezes, deixamos de lado o fato de que tudo o que sabemos sobre o mundo,
sabemos a partir de nossos sentidos. Se uma pessoa vê ou ouve de maneira
diferente isso pode ter um efeito relevante na interação social”, afirmou Tadin
em nota divulgada pela universidade.
Estudos anteriores já haviam mostrado uma maior
sensibilidade de visão dos autistas, mas este é o primeiro a avaliar a
percepção de movimento. O estudo contou com a participação de 20 crianças
autistas e 26 crianças com o desenvolvimento normal. Os autores pediram que
elas assistissem vídeos nos quais barras brancas e pretas se mexiam e
indicassem para qual direção as barras estavam indo (esquerda ou direita).
Se a criança acertasse, o vídeo seguinte
era mais curto, aumentando o grau de dificuldade. Se errasse, era mostrado um
mais longo. Dessa maneira, os pesquisadores mediam a velocidade com que a
criança era capaz de perceber a direção das barras. No caso dos vídeos com
pouco contraste (pouca diferença entre barras brancas e pretas), os dois grupos
de crianças tiveram desempenho similar. No entanto, com o contraste mais alto
(diferença acentuada entre branco e preto) os autistas identificaram a direção
duas vezes mais rápido que o grupo controle.
“Essa capacidade dramaticamente melhor de
perceber movimentos é uma pista de que o cérebro de pessoas com autismo
continua respondendo mais e mais conforme a intensidade aumenta”, explicou em
nota Jennifer Foss-Feig, pesquisadora da Universidade de Yale, que também
participou do estudo. Esse hiperestímulo também está ligado à epilepsia, um
problema muito comum em crianças autistas – estima-se que cerca de um terço dos
autistas também sofram de epilepsia. A resposta intensa aos estímulos no
autismo também pode ser uma razão para a introspecção dos indivíduos.
In http://revistacrescer.globo.com/
Sem comentários:
Enviar um comentário