sexta-feira, 15 de maio de 2015

“Epidemia” de necessidades educativas especiais

Tenho ouvido de diversas fontes preocupação o que parece ser uma “epidemia” de necessidades educativas especiais. As referenciações crescem e os recursos parecem sempre insuficientes. Terá algum “vírus” de dificuldades de aprendizagem infetado a nossa população escolar?
Sabemos que o sucesso escolar depende de uma miríade de  fatores. Os mais óbvios serão o desenvolvimento cognitivo e o temperamento da criança, mas não são de desprezar o bem estar familiar, os horários adequados de trabalho, de lazer, de descanso, e a disponibilidade de apoio/supervisão ao estudo. O ambiente escolar também é fundamental pela adequação dos programas, dos horários e da pedagogia.
Sobre estes e outros fatores possíveis, muitos comentários se poderão fazer de acordo com a experiência de cada um. Mas gostaria de chamar a atenção para três, como mote para uma discussão mais alargada:
  1. Atualmente é cada vez reconhecido que as dificuldades de aprendizagem resultam em grande parte de perturbações específicas do neurodesenvolvimento e não apenas porque o alunoescolheu ficar distraído, ser preguiço e ter falta de vontade/motivação. Por este motivo, os alunos que mostram dificuldades de aprendizagem têm vindo a ser avaliados mais cedo, permitindo que sejam caracterizadas as áreas de maior desafio. Desta fora, poderão ser implementadas medidas adequadas ao perfil de cada um. Então, milagrosamente o empenho e a motivação melhoram. E sim, as perturbações do desenvolvimento são muito frequentes: atingem 12 a 15% das crianças segundo um estudo recente (ref. 1).
  2. Os programas escolares já não estão adequados ao “aluno médio” de cada faixa etária – quero dizer, o aluno com competências de linguagem e abstração “médias”, maturidade “média”, com estrutura escolar “média” e com suporte familiar “médio”. Perdeu-se a noção do que é o desenvolvimento normal da crianças e do adolescente. O aumento do nível de exigência poderá parecer positivo no sentido de levar os alunos mais longe, mas só até certo ponto. Passado o ponto de equilíbrio, obriga a um esforço colossal das famílias para consolidar conteúdos que deveriam ser adquiridos na escola, principalmente nos primeiros anos. Quando é que as crianças poderão ser crianças e voltar a brincar depois da escola?
  3. O desfasamento dos programas aumenta as necessidades de apoio pedagógico. O resultado deste desfasamento é que o aluno “médio” fica em sobrecarga de trabalho e os alunos com mais desafios entram em insucesso escolar e desmotivação, sendo forçados a engrossar as filas dos apoios e da educação especial para poderem usufruir do suporte de que necessitam. Será que com programas mais adequados e melhores apoios fora do sistema de educação especial ainda seriam necessárias tantas referenciações?
O mote está lançado, partilhe esta mensagem e sua experiência. Apesar deste assunto mexer com as nossas emoções, vamos fazer comentários construtivos e sugestões práticas para combater esta “epidemia”.
Fonte: Dormir e Crescer

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